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 Expiação





Deve, então, um Cristo perecer em tormento em todas as idades para salvar aqueles que não têm qualquer imaginação?





- George Bernard Shaw,  São João, Epílogo





A expiação – que conceito. Quem não gostaria de passar a conta a outra pessoa por cada indulgência e transgressão?


No entanto, não importa o quão boa a expiação soe, não importa o quanto as pessoas queiram que esta seja verdade, a questão fundamental é se estaé baseada na verdade revelada. Será que a expiação estará lá no Dia do Juízo para aqueles que dependem dela para a sua salvação?


Ou será que os incontáveis bilhões de almas humanas ansiosas ficarão com rostos abatidos quando Deus anunciar que Ele nunca prometeu tal coisa? Alguns acreditam que, se a expiação não estiver lá para eles no Dia do Juízo, Deus aceitará o seu pedido de desculpas.





Outros entendem que a vida é um campo de provas para a próxima vida e que os nossos livros de ações fecham quando morremos. Afinal, se um pedido de desculpas no Dia do Juízo fosse suficiente para a salvação, qual a necessidade do inferno? Pois que pecador não oferecerá arrependimento sincero quando confrontado com a realidade do castigo de Deus?


 Mas que peso terá tal pedido de desculpas, realmente?


Uma vida virtuosa exige negação de prazeres pecaminosos e sacrifício de tempo, esforço e prioridades mundanas.


 O renunciamento de delícias hedonistas para honrar a Deus testemunha a fé de uma pessoa. Esse testemunho terá peso. Mas que peso terá o arrependimento de uma pessoa no Dia do Juízo, quando o jogo acabou, não deixando quaisquer pecados a serem evitados, nenhum esforço mundano ou compromisso a ser feito, nenhuma vida piedosa a ser vivida e, resumindo, nenhumas ações a seremrealizadas que possam testemunhar a fé de uma pessoa?


Então autenticar a expiação é de uma importância fundamental. Se válida, é a maior bênção de Deus para a humanidade. Mas se for falsa, a expiação não tem mais valor do que um cheque forjado


– pode transmitir uma sensação de segurança e satisfação, enquanto a carregamos no bolso, mas no momento em que tentamos descontá-la, revelar-se-á inútil. Quem, então, foi o autor da expiação?


Se foi Deus, nós





seríamos tolos em não a apoiar. Mas se o autor foi o homem, teríamos de questionar a autoridade daqueles que afirmam falar em nome de Deus, se não os profetas. Como discutido no capítulo anterior, a cadeia de responsabilidade é clara nesta vida. Tanto o Antigo como o Novo Testamentos, bem como o Alcorão Sagrado, enfatizam a responsabilidade individual e ensinam que ninguém carrega o fardo das iniquidades de outro. Mas onde é que Jesus diz que o seu caso é diferente?


E se ele nunca foi crucificado em primeiro lugar (como discutido nos capítulos anteriores), a doutrina da expiação desmorona desde a fundação. Aqueles que encontram satisfação na interpretação frouxa das supostas palavras dos discípulos, Paulo e outros personagens para-proféticos podemnão pesquisar os seus códigos individuais de religião mais adiante. Aqueles que acham chão mais firme nos ensinamentos dos profetas reconhecem que Deus não promete nada de bom no futuro para aqueles que se tentam desviar da prestação de contas a Ele nesta vida. Jesus teria afirmado que a crença, por si só, não é suficiente para a salvação: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus” (Mateus 7:21). Quando questionado sobre como alcançar a salvação, ele supostamente ensinou: “Se queres entrar na vida eternal


[a vida eterna – ou seja, a salvação] obedece os mandamentos”


 (Mateus 19:17). Mas onde, no Novo Testamento,Jesus aconselhou os seus seguidores a relaxar, pois em poucos dias ele iria pagar o preço e todos poderiam ir para o céu por nada mais do que crença?


Em nenhum lugar.


 E, quando Jesus foi supostamente ressuscitado depois da sua suposta crucificação e voltou para os seus discípulos, por que não anunciou a expiação?


 Por que não declarou que ele tinha pago pelos pecados do mundo, passados, presentes e futuros, e que então naquele momento seria hora de festejar ao “estilo expiatório”?


Mas ele não o fez, e nós devemos perguntar porquê. Poderia ser que a expiação não fosse verdade?


Será que alguém rabiscou os seus pensamentos fantasiosos nas margens das escrituras?


Não seria a primeira vez. Então, de onde veio a expiação em primeiro lugar?


E será que alguém se surpreenderia ao ouvir o nome “Paulo”?


Outra doutrina questionável proveniente da mesma fonte questionável?


É o que parece.


 Atos 17:18 diz, “Então, alguns filósofos epicureus e estóicos começaram a argumentar com ele. Alguns indagavam: „O que deseja comunicar esse tagarela?


‟ Outros comentavam: „Parece ser um anunciador de deuses estranhos‟, pois Paulo lhes pregava as Boas Novas de Jesus e a ressurreição.” Paulo afirma diretamente que ele concebeu a doutrina





 da ressurreição da seguinte forma: “Recorda-te de Jesus Cristo, ressurreto dentre os mortos, descendente de Davi, segundo o meu evangelho”


(2 Timóteo 2:8). Com certeza, o conceito de Jesus Cristo a morrer pelos pecados da humanidade encontrase nas epístolas de Paulo


 (ex.: Romanos 5:8-11 e 6:8-9), e em mais nenhum lugar. Mais nenhum lugar?


 Nem de Jesus?


 Nem dos discípulos? Será possível que eles negligenciaram os detalhes cruciais sobre os quais repousa a fé cristã?


 Mais curioso e mais curioso! – como diria Alice. Neste ponto a que chegámos, a discussão deve certamente voltar à lei, pois ninguém pode ser acusado de suspeitar que alguém jogou rápido e alguém brincou com o desenho do pensamento cristão. Jesus, sendo judeu, viveu de acordo com a Lei (Mosaica) do Antigo Testamento. Entre os seus ensinamentos registrados estão: “Se queres entrar na vida, obedece os mandamentos”


(Mateus 19:17) e “Não penseis que vim destruir a Lei ou os Profetas. Eu não vim para anular, mas para cumprir. Com toda a certeza vos afirmo que, até que os céus e a terra passem, nem um iou [do grego iota – a nona letra do alfabeto grego] ou mínimo traço se omitirá da Lei até que tudo se cumpra.”


(Mateus 5:17-18). Alguns apologistas afirmam que tudo foi “cumprido” pela suposta morte ou ressurreição de Jesus, permitindo que as leis fossem posteriormente reestruturadas. Mas esse raciocínio não





funciona, pois cada cristão acredita que Jesus retornará para derrotar o Anticristo,próximo do Dia do Juízo. Então, se a missão de Jesus no planeta Terra é o ponto final, não foi tudo ainda cumprido. O mais provável é que “tudo cumprido” é exatamente o que qualquer pessoa sensata assumiria como significando a conclusão da existência mundana no Dia do Juízo. E, referenciando a citação acima, os céus ea terra ainda não passaram. Além disso, não há nenhum sinal de um regresso de Jesus no horizonte. No entanto, há dois mil anos, Paulo disse que não só um iou ou mínimo traço, mas que toda a lei tinha mudado. A alteração de Paulo dos ensinamentos de Moisés e Jesus diz, “E, por intermédio de Jesus, todo aquele que crê é justificado de todas as faltas de que antes não pudestes ser justificados pela Lei de Moisés.” (Atos 13:39). Uma declaração mais permissiva que esta seria difícil de conceber. Podemos facilmente imaginar a vozcoletiva do público a gritar, “Por favor, que tenhamos mais disso!” E aqui está: “Mas, agora, fomos libertos da Lei, havendo morrido [isto é, sofrido] para aquilo que nos aprisionava, para servimos de acordo com a nova ministração do Espírito, e não conforme a velha forma da Lei escrita.” (Romanos 7:6). Ou, se é que posso livremente parafrasear: “Mas agora eu digo para vocês esquecerem esta lei antiga, os inconvenientes com os quais





temos vivido por tanto tempo, e vivamos pela religião dos nossos desejos, e não pelos mandatos velhos e desconfortáveis da revelação”. De acordo com Paulo, a lei de Deus era aparentemente boa o suficiente para Moisés e Jesus, mas não para o resto da humanidade. Não deve ser de admirar que, uma pessoa que se considerava qualificada para negar a lei dos profetas, também se considerava capaz de satisfazer toda a gente, como ele mencionou tão claramente: Pois, sendo livre de todos, fiz-me escravo de todos para ganhar o maior número possível: Fiz-me como judeu para os judeus, para ganhar os judeus; para os que estão debaixo da lei, como se estivesse eu debaixo da lei


(embora debaixo da lei não esteja), para ganhar os que estão debaixo da lei; para os que estão sem lei, como se estivesse sem lei (não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo), para ganhar os que estão sem lei. Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos.





Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns. (JFAA; 1 Coríntios 9:19-22)


E o qual é o problema de tentar satisfazer toda a gente?


 O problema é que aqueles que tentam satisfazer toda a gente deixam de ser a coisa mais importante para a pessoa mais importante – eles deixam de ser verdadeiros com eles mesmos. Este cenário é uma artimanha infalível na política, onde os políticos mais bem-sucedidos são aqueles que se vendem para o maior número de grupos de interesse, alguns deles conflituantes. O problema é que os políticos normalmente vendem não só a verdade, mas as suas almas durante o processo. Assim, num lado temos os verdadeiros profetas, Jesus Cristo incluído, a ensinar a salvação através da aderência às leis de Deus como transmitida por meio da revelação – ou seja, a salvação pela fé e pelas obras. No outro lado temos o desafiador, Paulo, a prometer uma salvação sem esforço seguida de uma vida ilimitada por mandamentos – noutras palavras, a salvação só através da fé. Não admira que Paulo ganhou seguidores! Tiago ensinou que só tendo fé não seria suficiente para a salvação. Na passagem, por vezes, intitulada “A Fé Sem as Obras é Estéril”


(Tiago 2:20), o autor condena sarcasticamente





aqueles que dependem unicamente da fé para a salvação: “Crês tu que Deus é um só?


Fazes bem; os demónios também o crêem, e estremecem.”


 (Tiago 2:19). Uma paráfrase moderna pode ser lida mais como, “Acreditas em Deus?


E depois?


 Satanás também. Como és tu diferente dele?” Tiago esclarece que “é pelas obras que o homem é justificado, e não somente pela fé.” (Tiago 2:24). Porquê? Porque “assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta.” (Tiago 2:26) Jesus Cristo não comprometeu osseus valores para apelar ao povo. Ele ensinou a simplicidade e o bom senso, tais como: “...assim como o Pai me ordenou, assim mesmo faço…


” (João 14:31) e, “Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai, e permaneço no seu amor.” (João 15:10). Repetindo: “Seguardardes os meus mandamentos…


”(itálico meu). No entanto, Jesus não ordenou em nenhum sítio a crença na filiação divina, na Trindade, na crucificação, na ressurreição, na expiação, e noutros princípios do dogma trinitário. Na verdade, ele ensinou exatamente o oposto. Além disso, em contraste com Paulo, Jesus não tentousatisfazer toda a gente. Ele foi simplesmente, para todas as pessoas, um profeta carregando a verdade de Deus. Ele não





 tinha medo de expressar a dura verdade, de dizer o que pensava, oude transmitir a revelação, sem tentar torná-la mais atraente. Na curta passagem de Mateus 23:13-33, Jesus rotulou os fariseus de “hipócritas” nada menos do que oito vezes, “cegos”por cinco vezes, “tolos/embotados” por duas vezes, culminando em “cobras venenosas” e “ninho de víboras”. Palavras fortes? Talvez não em nações ocidentais, mas tente proferir estes insultos na Palestina, que era a terra natal de Jesus, e veja o que acontece, mesmo nos dias de hoje. Agora esse é o exemplo franco de um verdadeiro profeta. E, no entanto, há aqueles que veem Paulo como a principal voz da revelação, apesar do aviso claro: “O pupilo não está acima do seu mentor, nem o escravo acima do seu amo.” (Mateus 10:24) Então, por que atribui o Cristianismo Trinitário prioridade aos ensinamentos de Paulo, que não era um discípulo ou um servo, e também nunca conheceu Jesus – acima dos “do mentor”, apesar de a Bíblianos ter advertido contra tais prioridades invertidas? E o que propôs Paulo em relação à doutrina da expiação? Não apenas uma alteração dos ensinamentos de Jesus. Não, é uma religião totalmente nova, e toda uma nova lei – oufalta dela! É tão fácil e sedutor, que uma pessoa quer acreditar. E, dada a história sangrenta da intolerância católica romana, por mil e quinhentos anos uma





pessoa tinha  de acreditar, gostando ou não!





Consequentemente, a Igreja parece ter conseguido misturar um endurecedor, aparentemente satisfatórias nas mentes inocente, resinosas de dos falsidades povos recetivos,cimentando convicções sobre um credo sem provas – um credo longe do ensinamento de Jesus: “Em verdade, em verdade vos asseguro que aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço…” (João 14:12). Uma pessoa poderá pensar, será que Jesus realmente quis dizer coisas como viver de acordo com a lei revelada, guardar os mandamentos, orar diretamente a Deus – coisas assim? O que podemos imaginar que Jesus dirá, no seu regresso, quando ele encontrar um grupo dos seus “seguidores” a preferir a teologia paulina acima da sua? Talvez ele cite Jeremias 23:32 –“„Sim! Estou contra os que proclamam falsos sonhos!‟, afirma o SENHOR. „Eles os comunicam e com as suas mentiras irresponsáveis desviam o meu povo. Eu jamais os enviei, tampouco os autorizei a pregar; eles não produzem qualquer benefício a ninguém do meu povo!‟, assevera Yahweh.” Seja quando for que Jesus regresse, podemos seguramente assumir que ele dirá ainda mais coisas que surpreenderão muita gente.



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